Hoje escolhi trazer aqui um poema de Camilo Castelo Branco, que é dos que mais gostei. Camilo, neste soneto , demonstrou boa dose de humor, ridicularizando os "amigos" que o abandonaram quando cegou. É portanto uma lição de vida, que demonstra que a verdadeira amizade é aquela que não é circunstancial, mas a que se revela a todo tempo sempre presente, partilha alegrias, êxitos, tristezas e sofrimentos.
"Amigos" de circunstância são-no na ocasião e no momento, esfumam-se e são relevados pelo tempo.
" OS AMIGOS"
Amigos cento e dez, e talvez mais,
eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Pensei que sobre a terra não havia
mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos cento e dez, tão serviçais,
tão zelosos das leis da cortesia,
que eu, já farto de os ver, me escapulia
às suas curvaturas vertebraís.
Um dia adoeci profundamente.
Ceguei. Dos cento e dez, houve um somente
que não desfez os laços quase rotos.
- Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver". .
- Que cento e nove impávidos marotos!
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco ( nasceu em Lisboa, 16 de Março de 1825 — e morreu em S. Miguel de Seíde, Famalicão 1 de Junho de 1890). Camilo foi romancista, além de cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor. Foi o primeiro escritor de língua portuguesa viver exclusivamente dos seus escritos literários e o maior romancista português do século XIX (19).
Homenagem que José Saramago, fez a Camilo Castelo Branco.
Galardoado em 1998 com o Prémio Nobel de Literatura, José Saramago deslocou-se a S. Miguel de Seide, a 28 de Fevereiro de 1999, acompanhado de sua mulher Pilar del Río, para homenagear o escritor Camilo Castelo Branco, deixando escrito no Livro de Honra da Casa de Camilo o seguinte texto:
«Na casa onde Camilo saiu da vida para entrar na eternidade do génio, venho trazer rosas. Venho também trazer o prémio que me deram, o seu valor simbólico, que Camilo merece, como provavelmente nenhum outro escritor português. Eu, aprendiz, deixo rosas ao Mestre.
José Saramago
28.Fevereiro.99»